A dor de cabeça é uma das causas mais comuns de procura ao médico. É o motivo de um quinto das consultas de Pronto Socorro nos Estados Unidos e acomete cerca de 95% da população em algum momento da vida.Algumas pessoas sofrem com esse problema frequentemente. Quando as dores de cabeça acontecem por mais de 15 dias no mês, num período de 3 meses, ela é considerada uma cefaleia crônica. Nesse texto vamos falar das principais causas de dores de cabeça constantes, apontando quando se deve procurar o médico para uma avaliação, e quais as formas de tratamento disponíveis hoje.
É importante lembrar que a função desse texto é meramente informativa e de maneira alguma substitui a avaliação médica.
Para falarmos de dores de cabeça constantes é preciso saber que existem dois grupos de cefaleias: as cefaleias primárias e as secundárias. Como é isso?
A cefaleia secundária acontece quando uma outra doença é responsável pela dor de cabeça. Essa doença pode ter pouca gravidade, como um problema dentário ou uma gripe, ou pode ser uma condição grave, como um tumor ou uma hemorragia cerebral. Em geral, quando a doenças é mais grave, ela se manifesta com dores de cabeça junto a algum sinal de alarme. Justamente pelo risco de alguma condição grave, todas as pessoas que tem uma dor de cabeça com sinal de alarme, ou uma mudança no padrão da dor de cabeça, ou quando as dores são frequentes e ainda não tem um diagnóstico devem buscar uma avaliação médica. Felizmente as causas graves são mais raras, e a maioria das pessoas com dores de cabeça constantes apresenta algum tipo de cefaleia primária.
As cefaleias primárias são aquelas em que a dor de cabeça é o sintoma central da própria doença, e não existe uma outra condição que a justifique. É por isso que exames como a Tomografia ou a Ressonância não mostram nenhuma alteração nesses casos. Essa é a causa da grande maioria das consultas médicas por dor de cabeça (tanto no consultório quanto no pronto socorro). É comum que as cefaleias primárias se repitam ao longo do tempo, levando os pacientes que não tem acompanhamento médico a buscarem o pronto socorro recorrentemente. Existe mais de um tipo de cefaleia primária, e a que mais causa dores de cabeça constantes é a Enxaqueca, também conhecida como Migrânea (clique aqui para saber mais sobre a enxaqueca). Pessoas com enxaqueca tem crises de dor intensa, que pode durar de horas a dias. Além da dor, também podem sentir náuseas ou mesmo apresentar vômitos. Outros sintomas comuns são o incomodo com a luz, com o barulho e com os cheiros. Pacientes com crises intensas de enxaqueca buscam locais escuros e silenciosos, e podem melhorar após algumas horas de sono. Naturalmente, quanto mais frequentes são as crises de enxaqueca, maior é o comprometimento da qualidade de vida.
Mas afinal, como a enxaqueca se torna constante?
A enxaqueca é uma condição crônica, e tem base genética. O cérebro das pessoas com enxaqueca desenvolve uma sensibilidade maior aos estímulos, e gera uma cascata de eventos que acaba levando às crises de dor. O número de crises ao longo de um período é determinado pela interação entre a predisposição pessoal (genética) e os fatores chamados de gatilhos. Alguns exemplos de gatilhos são: estresse emocional, privação do sono, jejum prolongado, período menstrual, bebidas alcoólicas e alguns tipos de alimentos. É importante dizer que os gatilhos mudam de uma pessoa para outra, e mesmo para cada pessoa eles podem mudar ao longo do tempo.
O processo que torna a enxaqueca eventual (episódica) em um problema constante (enxaqueca crônica) é como qualquer processo de aprendizado. Quanto mais se repetem as crises, mais fácil é para um novo episódio acontecer. Esse processo se chama sensibilização central: o caminho da dor fica cada vez mais “registrado” em nosso cérebro, e assim é mais fácil de ser percorrido.
Hoje conhecemos alguns fatores que contribuem para esse “aprendizado da dor”, e que devem ser evitados para que as crises não se tornem frequentes. Para as pessoas que já tem dores de cabeça constantes é fundamental combate-los: isso contribui muito para um bom resultado do tratamento. Os principais fatores de cronificação são: sedentarismo e sobrepeso, sintomas de depressão e de ansiedade, problemas do sono, uso excessivo de analgésicos e cafeína.
Existe tratamento pra quem tem dores de cabeça constantes?
Para qualquer tratamento bem sucedido, o primeiro passo é um diagnóstico correto, e para tanto a avaliação médica é imprescindível.
Como já vimos, a causa mais comum de dores de cabeça constantes é a enxaqueca crônica, e ela tem sim tratamento! O melhor deles é sempre a prevenção: uma pessoa que tem enxaquecas frequentes deve procurar ajuda para que esse problema não siga piorando até se tornar constante. Mas mesmo quando isso já aconteceu, existe tratamento, e ele é baseado em 3 passos fundamentais:
O tratamento profilático é sempre indicado nos pacientes com enxaqueca frequente. Ele é fundamental para se conseguir uma redução efetiva no número de crises e também na intensidade. Existem 2 tipos de tratamento com comprovada eficácia atualmente disponíveis no Brasil: os medicamentos profiláticos e a aplicação da toxina botulínica (o Botox®). Em 2018 os anticorpos monoclonais injetáveis (novos medicamentos para prevenção da Enxaqueca) foram liberados para uso comercial nos Estados Unidos.
Além do tratamento profilático, é importante a orientação de como proceder em um caso de crise: qual medicação mais adequada para cada paciente; qual a dose correta; quando iniciar a medicação; o que fazer caso não apresente melhora adequada. É bom lembrar que o uso excessivo e indiscriminado de medicações para crise de enxaqueca pode induzir a um outro tipo de dor: a Cefaleia por Uso Excessivo de Analgésico. Por fim, as medidas de estilo de vida constituem o terceiro passo fundamental para um tratamento de sucesso. Uma boa alimentação, atividade aeróbica regular, um sono reparador e controle de fatores de estresse podem auxiliar e muito no tratamento.
Em resumo: dor de cabeça é um sintoma muito comum, mas algumas pessoas sofrem constantemente desse problema, enquanto outras podem ter doenças graves como causa. A condição mais comum de dores constantes é a enxaqueca crônica. O seu diagnóstico depende de uma avaliação médica, e o tratamento é composto por 3 pilares: a medicação profilática (que reduz as crises), o tratamento de crise (que corta a crise já instalada), e as medidas de estilo de vida (fundamentais para a melhora efetiva).