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Dr. Marcio Nattan

O Sinal Vermelho da Dor de Cabeça

A dor de cabeça é um sintoma frequente. Na maioria das vezes a causa é uma condição benigna, mas em alguns casos pode ser o primeiro ou até o único sintoma de uma doença grave – como o rompimento de um aneurisma cerebral.

No ano de 2011, a primeira temporada da série Game of Thrones ia ao ar para se tornar uma das mais famosas de todos os tempos. As gravações caminhavam para o fim quando Emilia Clarke, protagonista da então frágil Daenerys, sentiu uma súbita dor de cabeça durante um treino com seu personal.

“Senti como se uma cinta elástica apertasse o meu cérebro. Tentei ignorar a dor, mas não consegui. Disse ao meu treinador que tinha que fazer um descanso.”

Em poucos segundos a dor piorou muito, parecendo uma explosão em sua cabeça. Outros sintomas se seguiram:

“Entrei no banheiro e me ajoelhei, com náuseas. Enquanto isso, a dor me perfurava a cabeça cada vez mais”.  “Lembro-me do som de uma sirene, uma ambulância; escutei novas vozes, alguém dizendo que meu pulso era fraco, enquanto eu vomitava bílis” 

Emilia foi levada imediatamente ao Pronto Atendimento onde fez uma Tomografia do Crânio que detectou hemorragia (sub-aracnóidea). A causa: o rompimento de um aneurisma cerebral. Submetida a procedimentos cirúrgicos para correção, ela permaneceu por um longo período em terapia intensiva. Aos poucos se recuperou e, graças a uma boa reabilitação, retomou suas atividades para dar vida e força à uma das personagens mais importantes da série – the Unburnt! 

O sangramento cerebral por ruptura de aneurisma é uma doença muito grave, com uma mortalidade que atinge até 50% dos pacientes, mesmo recebendo todos os cuidados disponíveis.

A história (real) de Emilia Clarke é um convite à reflexão sobre quando a dor de cabeça é um sinal de emergência. Em 2019, a revista científica Neurology® publicou uma revisão dos principais sinais de alarme para uma dor de cabeça aguda1.

Nela são elencados 15 itens que indicam maior precaução diante de uma queixa de dor de cabeça:

        1. Início súbito (imediato) de dor muito intensa. Essa forma de apresentação é chamada de cefaleia em trovoada (ou Thunderclap), e é diferente da dor que vai se tornando progressivamente intensa ao longo de minutos ou horas (mais comum na enxaqueca).
        2. Sintomas “sistêmicos” que aparecem junto com a dor, como febre alta, manchas no corpo, emagrecimento sem outra causa aparente;
        3. Quando além de uma dor nova, existe história de neoplasia prévia;
        4. Sintomas neurológicos como fraqueza de um lado do corpo, desvio da boca ou alteração da fala;
        5. Dores de cabeça que só começam a partir dos 50 anos;
        6. Uma clara mudança no padrão de uma dor de cabeça prévia e recorrente;
        7. Dor de cabeça que piora ao ficar de pé, ou que piora ao permanecer deitado;
        8. Dor desencadeada durante um esforço físico (como no caso de Emilia Clarke), por tosse, espirro ou atividade sexual;
        9. Alterações oftalmológicas no exame médico, como papiledema;
        10. Dor com piora progressiva ao longo de dias ou semanas;
        11. Dor de cabeça que tem seu início ou mudança de padrão durante a gestação ou puerpério;
        12. Sintomas autonômicos, como lacrimejamento, vermelhidão, inchaço do olho, que pode ser associado a coriza nasal do mesmo lado;
        13. Dor após história recente de trauma (queda, acidente automobilístico ou outro trauma);
        14. Dor em pessoas com alguma forma de imunossupressão (por medicamentos, transplante de órgãos, HIV, entre outras);
        15. Necessidade constante de analgésicos, sem melhora significativa.
        16. Nem sempre esses sintomas são causados por doenças grave. Entretanto, na presença de algum deles, uma avaliação médica é fundamental para a identificação da necessidade de exames complementares. Algumas das doenças graves que podem estar por trás da cefaleia são: o aneurisma cerebral roto, a trombose venosa cerebral, a síndrome da vasoconstricção arterial reversível, causas de hipertensão craniana (como o tumor cerebral) ou hipotensão craniana.

Em caso de uma dor de cabeça muito súbita e intensa (a cefaleia em trovoada), ou quando junto à dor uma pessoa tem perda de consciência, recomenda-se uma avaliação médica imediata, no Pronto Atendimento mais próximo.

Felizmente Emilia se salvou de um quadro muito grave. Além do mérito de toda a equipe assistencial, o reconhecimento rápido e o pronto atendimento e uma reabilitação efetiva foram fundamentais para que ela pudesse retomar sua vida e nos brindar com sua excelente atuação. Além disso ela criou uma página com o intuito de divulgar informações sobre lesões cerebrais em pessoas jovens – confira no link abaixo.

Informação é fundamental para o melhor resultado do tratamento! Se quiser saber mais sobre cefaleias, siga nossos posts (@drmarcionattan).

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